sábado, 12 de setembro de 2009

Entre subúrbios, cervejas e pagodes

Primeiro ele não tinha local. Depois não tinha data...Mas aconteceu. No bairro de Piedade, subúrbio carioca, próximo à linha do trem. Coincidentemente, o lugar onde eu nasci. Há 23 anos que não tínahmos um encontro tão estreito... Nem foi tão complicado chegar lá, mas tive muito medo de me perder pelo caminho. Refiz um itinerário que fazia muito na minha infância e por isso, lembranças maravilhosas me tomaram ao longo do percurso. Taquara, Praça-seca, Mato-Alto...A casa "cortada", o Colégio Arte e Instrução...Finalmente, chego em Cascadura, ponto final de todos os ônibus do mundo.Lá não foi muito difícil achar um coletivo que passasse na Gama-Filho.Estação de trem de Cascadura, de Quintino e de Piedade:algo me dizia que que era pra saltar ali, mas sei lá por que motivo, continuei no ônibus. Deus mandou um anjo (tenho certeza que foi ele), um senhor que perguntou ao motorista: "Onde fica a Gama-Filho?" Para meu desespero o motorista afirma que já havia passado (como eu presumia) mas que ainda dava pra deixá-lo num local mais ou menos próximo. "Ufa, que alívio!", eu pensei. Saltei junto como o senhor e decidi por segui-lo, mas logo não foi mais necessário, a Gama-Filho surgia ali na minha frente, como se fosse um oásis. Cheguei!
Não tinha quase ninguém. Além de mim, o dono da casa e sua namorada, estavam apenas mais duas pessoas...Por muito tempo pensamos que seríamos só nós. "Fulaninho é mó furão, não vai vir!Ciclaninha é louca, não vai conseguir chegar... ". Pensamos seriamente em não comprar carne, afinal, não havia quórum e não valeria a pena...Mas o quórum foi sendo feito e no final, estávamos quase todos reunidos novamente.Parecia impossível mas estávamos lá, juntos, relembrando momentos incríveis, fazendo as mesmas piadas, cantando as mesmas músicas, chapando o coco através dos mesmos procedimentos, rindo, zoando...
Mas a catarse rolou mesmo por conta da trilha sonora. O dono da casa, assim como eu, é um amante dos pagodinhos de corno dos anos 90. Foi sensacional: Soweto, Karametade, Os Morenos, Arte Popular, Exaltasamba... com destaque para aquele refrão que diz : "Você reclama do meu apogeeeuuu/Do meu apogeu/E todo o céu vai desabaaaarrrr". Nooossaa! Foi uma comoção geral.
As horas passaram, a cerveja foi acabando e percebi que mais nada superaria aquele momento. Fui embora, antes que ficasse ainda mais tarde e não conseguisse condução pra roça. Fui andando sozinha pela escura e deserta rua Manuel Vitorino. Naquele momento me arrependi mais uma vez de ser uma doida inconsequente e lembrei da minha mãe falando pra eu tomar juízo, pra eu não esquecer da hora e depois ficar desesperada na rua porque não tem mais busão, pra eu não andar sozinha...Tudo isso passava pela minha cabeça e o medo era constante, mas o ônibus não tardou a chegar.
No trajeto de volta para casa eu pensava na saudade que já sinto de agora. Da falta que vão me fazer essas pessoas que marcaram um momento tão feliz da minha vida e que me proporcionam tantas risadas, mas que sem piedade, o tempo levará de meu convívio.

2 comentários: