domingo, 27 de setembro de 2009

Se eu quiser falar com Deus...

Essa semana uma amiga me chamou pra ir ao show do Nação Zumbi e à princípio eu aceitei porque a proposta me atraiu bastante:o ingresso seria comprado pela internet, o pagamento seria feito no cartão de crédito, iríamos de carro aqui do Recreio mesmo e de quebra, eu testemunharia este evento que é um clássico do mundo da música, algo que sempre tive vontade de fazer apesar de não ser nenhuma profunda conhecedora da banda! Acontece que não consegui comprar meu ingresso online e como agora arrumei um bico que me toma o sábado inteiro quase desisti do show quando um pensamento derrostista começou a me dominar: "nem deve ser tão legal assim, nem conheço todas as músicas, deve dar só aqueles tipinhos pseudo-cults que eu tenho abominado, blablabla...". Mas sabe aquele bicho carpinteiro que te obriga a sair de casa em noites enluaradas? Ontem eu estava possuída por vários deles e não estava dando pra ficar em casa de jeito nenhum. Eles eram mais fortes que meu pensamento derrotista e me faziam crer que qualquer coisa era melhor que ficar em casa. Com essa "coceira" cheguei do trampo, me amurrei rapidíssimo e fui! Sinceramente, foi a melhor coisa que eu poderia ter feito naquele dia. O show foi uma coisa absurda de boa, uma catarse difícil de definir, algo que há muito tempo eu não presenciava. Resumindo: foda!

Toda essa historinha do show é para, na verdade, contar um episódio que aconteceu no meu caminho para lá. Minha amiga marcou de me pegar no supermercado Zona Sul do Recreio. Saltei da Kombi ali e acabei tendo de esperar um tempinho. O mercado estava bombando. O que entrava e saia de gente indo pra night não tava no gibi. Fora as pessoas que iam pra pizzaria que tem lá dentro, além das outras que estavam simplesmente fazendo suas compras normais. Até pensei que posso ficar lá dando pinta num dia em que não tenha nada pra fazer, afinal até rolam uns machinhos dignos no local...hehehehe. Quando minha amiga estava quase chegando, duas garotas que devem ter mais ou menos a minha idade vieram me abordar com muita educação e simpatia. Pensei que elas estivessem fazendo a promoção de algum produto novo no mercado, ou me convidando para um evento bombante que estaria rolando pelas redondezas, mas não. Uma das meninas me disse que ambas eram de uma igreja dali de perto e que tinham me visto alguns minutos antes. Quando estava no meio do caminho para sei lá onde, Deus teria lhe mandado um recado: ela deveria voltar pra conversar comigo. Assim, ela voltou e me perguntou se eu tinha religião. Pensei um pouco e achei melhor responder que sim, o que não é uma mentira de todo. Depois me perguntou se eu acreditava no Nosso Senhor Jesus Cristo e eu também respondi com toda convicção que sim, pois acredito mesmo. Pra terminar ela falou que Deus me ama muito e que ela estava ali pra me dizer que eu devia me reaproximar Dele, que Jesus morreu na cruz para que nós resgatássemos o nosso laço com o Pai, que teria se rompido quando Adão e Eva O desobedeceram no paraíso. Fui extremamente receptiva com as duas, apesar de ter dúvidas quanto a real intenção delas. Sim, talvez eu realmente precise resgatar minha intimidade com Deus e ela realmente tenha recebido um sinal divino, mas talvez ela estivesse somente blefando, a fim de me seduzir para a tal igreja dela. Pra minha sorte, minha amiga chegou no meio do nosso "papo". Agradeci a preocupação das duas e disse que tinha de ir. Saí correndo em direção ao carro.

Blefando ou não, a menina acertou na mosca.Quem me conhece bem sabe que há uns 5 anos atrás eu podia ser considerada uma jovem carola. Participava do grupo jovem, frequentava "encontros com Cristo" de todos os tipos, não faltava uma missa aos domingo nem em dias santos, me confessava e comungava regularmente. Cheguei a ser coordenadora de pastoral, um verdadeiro exemplo. Grande parte dos meus bons amigos que tenho hoje são fruto dessa época, uma época que considero maravilhosa, mas que passou. Sim, entrei para faculdade e digamos assim, me desvirtuei. Larguei todos os meus compromisso paroquiais e praticamente só vejo a Igreja na Páscoa. Muita coisa mudou, no meu coração e nos meus pensamentos. Mas a questão é que apesar de ter me indentificado com as visões da mocinha, elas não conseguiram me comover. Não sei, talvez eu que esteja errada, mas preferi acreditar que se aquilo fosse verdade eu ficaria extremamente tocada, emocionada e culpada com aquelas revelações e acabaria procurando um padre para me confessar imediatamente. Mas o que aconteceu foi justamente o contrário. Segui meu caminho para minha nigth sem nenhum remorso e fiz todas as coisas "erradas" que tenho feito ultimamente sem nenhuma culpa. E vamos combinar que provavelmente ela já imagiva que eu só poderia ter duas respostas. Ou eu diria que não acredito em Deus e nem tenho religião e prontamente ela me convenceria a conhecer Jesus, ou eu responderia exatamente o que respondi, então o mais óbvio ela era mandar esse papinho da reaproximação, por ser a única carta que ela tinha na manga. Numa terceira e menos provável possibilidade, eu diria que tenho religião e muita fé nela, restando à pobrezinha somente dizer Amém.
Essa coisa de religião é muito complicada mesmo. Ainda guardo muita coisa da tradição católica na minha personalidade, pois fui criada nela e não me envergonho de dizer que há muitas características louváveis e admiráveis na sua doutrina. Ao mesmo tempo, tenho dúvidas em relação a muitas questões, enquanto que de outras eu discordo completamente. Acho a espiritualidade algo extremamente importante e não consigo simplesmente não acreditar em Deus,e nem que a nossa vida é só isso aqui e acabou. Não, não consigo! Mas a verdade é que depois que você estuda Antropologia, ainda que com uma péssima professora, fica extremamente inviável acreditar que a verdade seja uma só, por mais que se queira. Isso me fez repensar várias coisas que eu enxergava como certas e, por isso, não sei se me considero cristã como me considerava antes. Na verdade, não acho que eu ainda seja digna de me considerar assim, se é que para isso seja necessário ter dignidade.

Sei lá...Talvez um dia me arrependa de tudo isso que penso atualmente e retorne à casa do Pai com o rabinho entre as pernas, mas por enquanto enxergo o pouco de culpa que ainda carrego em minha consciência como algo meramente simbólico-cultural imposto por esta sociedade em que vivo. Nesse meu tempo religioso aprendi que não adianta pedirmos perdão por algo que não nos arrependemos de fato e, pra falar a verdade, ainda não me arrependi de nenhuma das coisas teoriamente erradas que eu já fiz. Não sei se isso é bom, mas é o que sinto.

3 comentários:

  1. nem sabia que vc tinha um blog, que legal!

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  2. Deus é um grande conflito pra mim, vc sabe. Mas eu tendo a acreditar piamente nele. Não acho que se arrepender de ser feliz seja necessário, mas quando a gente prejudica os outros é diferente e eu acho que não é esse o seu caso.

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  3. Somos quem podemos ser, já dizia uma banda oitentinha, e Deus está nos lugares onde menos esperamos, principalmente nas dúvidas. O que a Cel disse acima é super-verdade: Ele não tem uma planilha de excell com a quantidade de missas e hóstias de cada um (se tiver eu tô ferrada!) mas certamente Ele tinha ingressos para o show bafônico do Nação ;)

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